Político
deve ganhar igual a professor, diz vereadora eleita após vídeo na web
Por Renan
Truffi - iG São Paulo | 29/09/2013
06:00
Amanda Gurgel, a professora que ficou famosa no YouTube, avalia como
positivo o trabalho na Câmara de Natal, mas diz se sentir mais importante na
sala de aula
Depois de ficar conhecida nacionalmente por um
vídeo no YouTube em que aparece constrangendo políticos, a professora Amanda
Gurgel (PSTU-RN) foi eleita a vereadora mais bem votada da história de Natal,
no Rio Grande Norte, com 33 mil votos. Seis meses depois de assumir o mandato,
ela avalia como “positiva” a oportunidade de “estar vigilante para a população”
na Câmara Municipal, mas não tem receio de dizer que se sentia mais importante
para a sociedade como professora.
Em entrevista ao iG , a agora vereadora conta sobre
os dilemas de pertencer à classe política, sem poupar os colegas. “Toda
tragédia na vida das pessoas é elaborada e produzida dentro do Parlamento”. Na
opinião de Amanda, os vereadores deveriam receber o salário equivalente ao de
um professor de ensino público. “Nossa defesa é que um vereador receba o mesmo
salário de um professor. Assim, se o vereador quisesse ganhar um salário de R$
15 mil (atual remuneração dos vereadores de Natal), também deveria aumentar o
salário de professor de R$ 1.300 para R$15 mil. Aqui na nossa cidade nem sequer
o piso é cumprido”, argumentou.
"Políticos estão preocupados em fazer projetos
que vão beneficiar empresários", diz Amanda
A professora ainda compara as manifestações
brasileiras de junho com o sucesso do vídeo, que a levou a se candidatar.
“(Naquela época) já havia uma situação limite. A própria repercussão do meu
vídeo já demonstrava isso. Ali houve enfrentamento de uma pessoa contra
deputados. As pessoas acharam aquilo o máximo porque era uma pessoa comum
colocando o dedo na cara de um político”, reflete.
Leia abaixo
a entrevista na íntegra:
iG - Um ano
após a eleição, como você avalia sua participação na política?
Amanda
Gurgel - Na verdade, agora estou vendo a política de outro ângulo, desde antes
eu participava de movimento estudantil, sempre fui ativista, estive antenada
com a questão política na cidade Mas como vereadora consegui ver coisas por um
ângulo diferente. Dentro da Câmara de Vereadores, os debates que são feitos
quase nunca interessam para a população e, quando são, a posição majoritária na
Câmara sempre é contrária aos interesses da população. Como hoje em que
aprovamos um projeto de empréstimo para a Prefeitura de Natal para pagar parte
das obras da Copa. Cerca de R$ 40 milhões dessa dívida poderia ser investido em
educação, transporte, saúde.
iG - Há dois
anos, quando seu vídeo teve milhões de acesso, você disse que os políticos
estavam se lixando para a educação, que as impossibilidades e limitações são
feitas por eles mesmos. Continua pensando assim ou sua visão mudou?
Amanda
Gurgel - Continuo pensando assim. Na verdade é como esse mesmo exemplo que acabei
de dar. Os políticos estão preocupados em fazer projetos que vão beneficiar
empresários, beneficiar empreiteiras. Se for licitação para transporte público,
é pra beneficiar essas empresas de transporte. E, diretamente, deixam de
destinar recursos para educação. Aqui na cidade são 35 mil crianças fora da
creche. Existe um projeto de execução de 21 creches. Ainda não foi construída
nenhuma. Já vai fazer um ano deste novo governo. Mas, mesmo após esse descaso,
conseguimos ampliar na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 25% para
30% o investimento em educação pública. Isso só foi possível no auge das
manifestações que clamavam por melhorias na educação. Ai os vereadores
aprovaram.
iG – Também
na época em que ficou famosa, você recebeu convites para se candidatar, mas
afirmava que não sabia se era isso o que queria para sua vida? O que você
agora? Pretende seguir na política ou se arrepende?
Amanda
Gurgel - Na verdade para minha vida, se for por uma questão pessoal, de interesse
próprio, não tinha esse projeto de ser vereadora ou de ocupar de qualquer cargo
público. O que aconteceu é que houve um convencimento público. A forma de fazer
política nessas instituições, do parlamento, enquanto for desse jeito, a vida
das pessoas pode melhorar pouco. A partir disso, nosso partido tem obrigação de
participar. Por enquanto estou ainda disponibilizando meu nome. Não sei até
quando. Do ponto de vista pessoal, acho que está sendo uma experiência muito
importante. Do ponto de vista político, por enquanto, estou (vereadora).
iG – Você se
sentia mais importante naquela época, como professora, ou agora, como política?
Amanda
Gurgel - Eu me sinto mais importante como professora, mas a vantagem de ser
vereadora é que consigo viabilizar muitos temas que vão além da educação, mas
da cidade também, do transporte, não apenas dos professores e dos estudantes.
Com essa atividade, tenho oportunidade de cobrar, fazer denúncias, estar
vigilante para todos os problemas, questões de saúde, de transporte. Então,
assim, desse ponto de vista é importante o mandato por isso. Mas do ponto de
vista social, não tenho dúvida que era mais importante como professora.
iG – Você se
constrange em ganhar agora um salário de R$ 15 mil por mês já que foi sua fala
sobre os baixos salários do professor em Natal que também deram visibilidade ao
vídeo na ocasião? É um incomodo para você?
Amanda
Gurgel - Eu Já tinha falado sobre isso desde a época da campanha. Não utilizo (o
salário) para minha própria vida. Continuo utilizando o equivalente ao salário
de professor. O restante do salário é destinado ao partido, que destina isso
para muitas necessidades, como para trabalhos dos movimentos sociais. E, na
verdade, é uma questão de princípio do meu partido. Todas as pessoas, todos que
são candidatos, tem essa mesma obrigação.
iG – Você
acha que os outros vereadores deveriam receber salários menores?
Amanda
Gurgel - Com certeza. Nossa defesa é que vereador receba o mesmo salário de um
professor. Assim, se o vereador quisesse ganhar um salário de R$ 15 mil, também
deveria aumentar o salário de professor de R$ 1.300 para R$15 mil. Aqui na
nossa cidade nem sequer o piso é cumprido. Infelizmente não é possível (entrar
com projeto para vincular salário dos vereadores ao dos professores) porque
pelo registrado na Lei Orgânica, um vereador não pode legislar sobre o próprio
salario, a menos que mudasse a Lei Orgânica, mas é um esforço em vão. Não vou
conseguir coletar as assinaturas necessárias. Seria um tempo que deixaria de
dedicar à educação, ao Passe Livre, à vida da população. E as pessoas não estão
se mobilizando com isso,
iG – O que
mudou na sua vida pessoal depois da eleição? Você ainda anda de ônibus por
exemplo?
Amanda
Gurgel - Era impossível conciliar a atividade parlamentar usando ônibus. É
impossível ir em mais de duas ou três reuniões em um dia de ônibus. Então
disponho de um carro por conta do mandato e me locomovo nesse carro.
iG – Que
projetos você destaca dos quais propôs nesse início de mandato?
Amanda
Gurgel - Além da aprovação dos 30% dos recursos para educação, a gente também
elaborou o projeto do Passe Livre após as manifestações, que garante Passe
Livre para estudantes aqui na cidade e vai à votação provavelmente na semana
que vem. A juventude já está fazendo pressão nos vereadores, de gabinete em
gabinete. Se esse projeto for aprovado, entrará para a história do município. É
um marco importante.
"Do ponto de vista social, não tenho dúvida
que eu era mais importante como professora"
iG – Aliás,
sobre as manifestações, você participou em algumas delas e acabou vaiada por
levar a bandeira do seu partido. Como você reagiu a isso?
Amanda
Gurgel - Participei de todos os protestos e levei sempre a bandeira do meu
partido. Teve um, é verdade, em que todas as bandeiras foram rechaçadas. Nós
tivemos que dizer que nosso partido sempre esteve nas ruas, desde quando eram
100, 200 pessoas, até o de 10 mil pessoas. Mas entendemos essa rejeição.
Concordamos com essa rejeição porque achamos que são contra os partidos
políticos tradicionais, que são responsáveis pela tragédia na vida das pessoas.
As pessoas perceberam a diferença entre o meu parido, revolucionário,
socialista, dentro do próprio debate. Nas manifestações essas opiniões foram
sendo revistas. Aqui na minha cidade, varias pessoas que estavam contra os
partidos estão no PSTU. Estão vendo que o PSTU defende os trabalhadores e a
juventude.
iG – Como
avalia essa repulsa a partidos políticos?
Amanda
Gurgel - A gente já vinha fazendo avaliação, já havia uma situação limite. A
própria situação do meu vídeo já demonstrava isso. Ali ouve enfrentamento de
uma pessoa contra deputados. As pessoas acharam aquilo o máximo porque era uma
pessoa comum colocando o dedo na cara de um político. Achamos isso (manifestações)
positivo. A nossa opinião é que toda tragédia na vida das pessoas é elaborada e
produzida dentro do parlamento. Nós achamos que é positivo. Agora fazemos
questão de participar das manifestações usando nossas bandeiras, nossos
cartazes para que pessoas saibam e reconheçam nossa diferença.
iG – Sentiu
algum preconceito imediato da população ao passar para o lado da política?
Amanda
Gurgel - Não, até agora não percebi esse tipo de reação. A minha atuação é de
denúncia dos problemas dentro da Câmara e isso reflete dentro da sociedade. As
pessoas estão aceitando muito bem.
iG – O que
vai fazer se não continuar na política? Vai voltar a ser professora?
Amanda Gurgel - Se eu entender que tenho que deixar de disputar
espaço na política, pretendo, com certeza, voltar a dar aula .
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Amanda
Gurgel - Com certeza. Nossa defesa é que vereador receba o mesmo salário de um
professor. Assim, se o vereador quisesse ganhar um salário de R$ 15 mil, também
deveria aumentar o salário de professor de R$ 1.300 para R$15 mil. Aqui na
nossa cidade nem sequer o piso é cumprido. Infelizmente não é possível (entrar
com projeto para vincular salário dos vereadores ao dos professores) porque
pelo registrado na Lei Orgânica, um vereador não pode legislar sobre o próprio
salario, a menos que mudasse a Lei Orgânica, mas é um esforço em vão. Não vou
conseguir coletar as assinaturas necessárias. Seria um tempo que deixaria de
dedicar à educação, ao Passe Livre, à vida da população. E as pessoas não estão
se mobilizando com isso,
iG – O que
mudou na sua vida pessoal depois da eleição? Você ainda anda de ônibus por
exemplo?
Amanda
Gurgel - Era impossível conciliar a atividade parlamentar usando ônibus. É
impossível ir em mais de duas ou três reuniões em um dia de ônibus. Então
disponho de um carro por conta do mandato e me locomovo nesse carro.
iG – Que
projetos você destaca dos quais propôs nesse início de mandato?
Amanda
Gurgel - Além da aprovação dos 30% dos recursos para educação, a gente também
elaborou o projeto do Passe Livre após as manifestações, que garante Passe
Livre para estudantes aqui na cidade e vai à votação provavelmente na semana
que vem. A juventude já está fazendo pressão nos vereadores, de gabinete em
gabinete. Se esse projeto for aprovado, entrará para a história do município. É
um marco importante.